Estamos respirando dióxido de carbono em demasia?

Talvez seja importante, hoje em dia, indagarmos se estamos respirando dióxido de carbono em demasia. Afinal, o dióxido de carbono, ou gás carbônico, é um produto de combustão que eliminamos até na respiração. Mas, quando em excesso, pode ser um perigo para a saúde.

Pois é, a elevação da concentração de CO2 indica que o oxigênio está sendo consumido a uma taxa maior do que sua renovação. A baixas concentrações, o CO2 não é nocivo. Conforme a concentração e o tempo de exposição aumentam, o CO2 provoca depressão do sistema nervoso central. Assim, as pessoas sentem relaxamento, fadiga e até  sonolência. Outros sintomas se acrescem na medida em que a concentração aumenta.

E quem trabalha em segurança e saúde sabe que, em concentrações elevadas, O CO2 está entre os agentes químicos com limite de tolerância no Anexo 11 da NR-15 – Atividades e operações insalubres.

O dióxido de carbono em ambientes residenciais x corporativos

A renovação de ar em ambientes climatizados ocorre de forma diferente em residências e em ambientes corporativos.

Em residências, a densidade de pessoas é menor, e a necessidade de renovação também é menor. Muitas vezes, pode até  ser suprida pelo simples fluxo causado pela circulação e pelo abrir e fechar de portas.

O mesmo não ocorre nas empresas, já que a quantidade de pessoas por metro quadrado é maior. Para esses ambientes, um sistema projetado para a troca do ar pode ser obrigatório.

O dióxido de carbono também é um marcador epidemiológico

Aliás, o dióxido de carbono como marcador epidemiológico deveu-se, nas últimas décadas, aos seguintes motivos:

  1. Aos potenciais danos que o aumento de sua concentração e a redução do oxigênio podem causar à saúde das pessoas.
  2. É aceito que, se o sistema de HVAC não está a removendo o dióxido de carbono, provavelmente, está também havendo acúmulo de outros poluentes. Eles podem ser: compostos orgânicos voláteis de ceras, mobiliário, produtos de limpeza, solventes, tintas e vernizes, colas, etc. Outros poluentes emitidos na combustão de gás para cozinhar / aquecimento. E poluentes  emitidos por equipamentos utilizados no interior dos ambientes.
  3. A falta da renovação de ar em ambientes climatizados também aumenta a disseminação de vírus, bactérias e outros microorganismos do trato respiratório. Com uma alta densidade de pessoas, o mesmo ar é respirado várias vezes.

Mas, há também outros efeitos do CO2, recentemente descobertos.


Universidade de Harvard avaliou o impacto do dióxido de carbono nas funções cognitivas de trabalhadores

 

Um estudo do grupo de pesquisa em saúde ambiental da Universidade de Harvard [1] avaliou o impacto do dióxido de carbono nas funções cognitivas de um grupo de 24 trabalhadores durante seis dias completos de trabalho. Encontrou resultados bastante impressionantes. Eles descobriram que, quando as pessoas eram movidas de um ambiente com baixa concentração de CO2 para um ambiente com concentração de 950ppm (partes por milhão) de CO2 — nada incomum em ambientes de trabalho — era observado um declínio de 15% nas faculdades cognitivas dos ocupantes. E, quando a concentração subia para 1400ppm, o declínio observado no desempenho era de 50%.

Pois é, na pesquisa, três domínios de funcionamento cognitivo, em particular, mostraram as mudanças fortes. Um, a resposta a crise, estratégia e uso da informação. Esses domínios de função cognitiva estão ligados à produtividade do trabalhador, relata Joseph Allen, condutor da pesquisa. [2]

Tipicamente, a concentração de dióxido de carbono na área externa fica em torno de 400ppm. O problema é que as pessoas experimentam, rotineiramente, níveis de dióxido de carbono entre 800 e 1200ppm no trabalho.  Além disso, não é raro encontrar ambientes com o dióxido de carbono em 1500ppm ou até 3000ppm, segundo Allen.

O objetivo do estudo era simular as condições de qualidade ambiental em interiores de edifícios “Verdes” e “Convencionais”. Avaliando o seu impacto numa medida objetiva de performance humana — função cognitiva de ordem superior. Ele concluiu que as descobertas têm  ampla gama de implicações, porque a pesquisa foi designada para refletir condições que são comumente encontradas, diariamente, em ambientes internos.

 

[1] Allen J, MacNaughton P, Satish U, Santanam S, Vallarino J, Spengler S. 2016. Associations of Cognitive Function Scores with Carbon Dioxide, Ventilation, and Volatile Organic Compound Exposures in Office Workers: A Controlled Exposure Study of Green and Conventional Office Environments. Environmental Health Perspectives, 124(6):805-812.
[2] Public Radio International: https://www.pri.org/stories/2015-11-11/what-better-thinking-and-productivity-improve-air-quality-your-office

 

 

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